segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A nova cultura de informação (continuação)



Resolvi acrescentar mais alguns argumentos ao texto que havia postado antes e incrementar a discussão com um pouco de sarcasmo e analogias figurativas. Outra noite, antes de deitar, assistia a um desses programas da madrugada e não pude deixar de notar um velho ditado utilizado pela nutricionista que tentava justificar seu argumento, a saber, " você é o que você come"! Não discutirei os argumentos da nutricionista que pretendia defender a idéia de uma alimentação saudável livre de excessos e tudo mais, e nem serei sarcástico o suficiente para dizer que se como somente folhas eu sou um vegetal. Não é esse o ponto a discutirmos aqui, mas a sabedoria popular que é capaz de expressar em um simples ditado situações tão peculiares. Se lembrarmos bem do argumento que utilizei para justificar a aceitação acrítica da informação recebida e da analogia para representar tal aceitação, veremos grande semelhança com o ditado aqui referido. A nutricionista defendia a idéia de que uma pessoa cuja alimentação é baseada em grande quantidade de gordura e carboidratos não será outra coisa senão a expressão física desse tipo de alimentação, em outras palavras, uma pessoa com excesso de peso e colesterol alto. Nesse sentido, pode-se dizer tranquilamente que essa pessoa é o que ela come. Pra não deixarmos os fanáticos por carboidratos ofendidos, lembro que ela também citou a alimentação daquelas pessoas que não fornecem a quantidade básica necessária de carboidratos e gordura para o corpo, o que se manifesta fisicamente neste, dando-nos o direito de dizer que essa pessoa é justamente aquilo que ela come (ou aquilo que ela não come, nesse caso). Tendo essa referência sido estabelecida para auxiliar minha analogia, uma vez que nem tenho capacidade de adentrar em uma discussão sobre qualidade de alimentação (a minha não é lá essas coisas), vejamos a relação entre os tres pontos anunciados: a nova cultura de informação, o ditado citado e o argumento da nutricionista. De início preciso admitir que me causa um certo desconforto querer levar a cabo essa tripla analogia, pois não acredito que sairei dela ileso, mas não posso furtar aos interessados o desfecho dessa perigosa empreitada. A princípio a primeira analogia que se manifesta, e aquela bem aparente dados os argumentos já postos, é a de que "nós somos a informação que 'engolimos'", ou, se os mais sensíveis intelectualmente preferirem, "nós somos a informação que nos é colocada goela abaixo". Cotejemos a propaganda. Não que eu queira me gabar, mas me considero um razoável apreciador de cerveja (infelizmente não me pagam para isso), mas uma coisa que me causa grande espanto é a propaganda da cerveja. Às vezes sinto uma imensa vontade de me levantar da poltrona pegar o telefone e chamar os amigos para um churrasco regado a caixas de skol cada vez que vejo várias de suas propagandas, tão bem elaboradas, tão convincentes e tão bem desenvolvidas, mas com um produto da mais baixa qualidade. Pergunte a qualquer "botequeiro" que se preze e ele te dirá: "skol é água pura!". Mas mesmo assim a maior parte da população que bebe a cerveja popular bebe skol. Nossos jovens, se é que posso chamá-los de nossos, já iniciam sua carreira social com a latinha de skol na mão, que propicia maior status e aceitação do que uma latinha de Baden. A propaganda exerce o seu papel muito bem, e ao consumidor cabe exercer o seu. Logo, retomando o princípio do ditado, aquele que bebe skol é um péssimo "bebedor de cerveja", dada a baixa qualidade da mesma (por outro lado ele pode ser considerado como um ótimo consumidor da falsa propaganda). As analogias não param por ai, e o tipo propaganda também não. Aliás, para não perder o horizonte estabelecido pela tripla analogia, o conceito de propaganda deve ser ampliado, assim com foi o de cultura de informação em nosso post anterior. Melhor ainda, essa ampliação do conceito de propaganda aqui pretendida deve estar contida dentro daquela concepção de nova cultura de informação, que como veremos não é nada nova, apenas o reconhecimento como tal se mostraria novo. Poderíamos retomar vários eventos históricos para justificar o argumento, como a máquina de propaganda criada pelo movimento do nacional-socialismo da Alemanha de Hitler, ou o período de ditadura no Brasil e sua censura, entre outros. Não há como negar, informação, em sua acepção mais ampla, é sempre repassada, de um jeito ou de outro, de cunho político ou religioso, mercadológico ou anti-consumista. A pergunta é: "você é o que você come?" Eu mesmo tenho medo de minha resposta. Mas não podemos deixar de finalizar a tríplice analogia (se é que se poderia julgar ser possível fecha-la em tão breves palavras). Como a nutricionista havia dito em sua entrevista, o indivíduo manifestaria fisicamente o alimento ingerido, do mesmo modo acreditamos acontece com aquela esponja acrítica, a qual é o retrato fiel do alimento ingerido. Assim foram os nazistas, assim são os radicais religiosos, e não só muçulmanos, mas cristãos, judeus, etc., assim são os ávidos por consumo, na triste e amarga ilusão vendida de que no ato da compra a satisfação existencial estará garantida, entre outros. Se uma simples propaganda de um belo carro com uma bela mulher consegue comover e compelir o homem moderno a assumir aquilo como um princípio de vida, imagine o que propagandas milenares fundadas em mentiras que mexem com o imaginário do homem, como as propagandas das religiões, passadas de geração pra geração, podem fazer com esse mesmo homem. Imagine a propaganda de um inferno que o espera para te consumir, caso você não siga certos preceitos, sendo contada há milenios. Imagine a propaganda de 72 virgens à sua espera caso você morra em nome de alguém que nunca conheceu. Não é simples romper com esse ciclo imposto por essa cultura de informação desde os primórdios do homem, e por mais que seja indesejado por essa sociedade estática que pretende se fundar em mentiras, é necessário que haja questionadores, mesmo que sejam aqueles que façam simples perguntas como: O QUE É QUE VOCÊ COME?
P.S: Olhem bem a imagem acima! Alguma coincidência?

Thiago Oliveira

4 comentários:

  1. 72 virgens? Em nome de quem eu tenho que morrer?

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  2. Não seria melhor 72 prostitutas bisexuais? Eu preferiria! hauhau! Ahh, tem que morrer em nome de um tal de Alá, mas não sei onde! hauha!

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  3. Malditos cristãos! Nunca me ofereceram algo parecido...

    Mas espere aí! De acordo com o ditado e a nutricionista, se eu comer as virgens eu me tornarei um virgem? Não é paradoxal isso? hehehehehehe

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  4. Ótimo texto Thiago, parabéns!

    O que mais se deve intrigar é até quando a população vai depender de mitos para colocar seus erros e suas conquistas..
    Um bom exemplo que posso citar, que um professor meu que falou:
    "Um certo médico tem certo passiente quase morrendo, se o médico nao conseguir salvá-lo a tempo, todos o chamarão de assassino, imcopetende e bla bla bla.. mas se o médico consegue salvá-lo na ocasião, todos irão dizer "Graças a Deus, Deus salvou o rapaz" e deixam o médico de lado.."

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