terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A nova cultura de informação


Em sua teoria da educação, exposta naquela que pode ser considerada sua maior obra, A República, Platão nos diz claramente que "aqueles que contam histórias (fazendo alusão aos rapsodos) devem ser vigiados, pois deixam na criança um traço mais duradouro do que os que cuidam do corpo". Não pude deixar de notar o quanto essa análise de Platão está presente naquilo que pretendo chamar aqui de "cultura da informação". Essa cultura da informação deve ser entendida para além do simples conceito veiculado de que a informação nos é dada pelos mecanismos e meios de comunicação estabelecidos pela sociedade contemporânea. A informação deve ser entendida, assim, como toda e qualquer transmissão de idéias feita pelo ser humano. Desde criança somos treinados a escutar antes mesmo de processar as informações que nos são passadas. O próprio fato de recebermos um nome para atendermos ao chamado desse nos indica esse treinamento, que não acredito ser instintivo, para a escuta. Como o próprio Platão diz, é na infância que encontramos o homem em sua fase mais maleável e suscetível de formação. Posto isso, não se pode negar que desde a mais tenra infância somos treinados a receber informações de todo o tipo, por outro lado, em momento algum somos treinados, mesmo que superficialmente, para analisar e processar, de modo crítico, todas as informações recebidas. Ao recebermos a informação, transmitida como uma ordem por nossos pais ou responsável, de que não se deve colocar o dedo na tomada não nos é permitido refletir sobre tal informação, cabendo apenas acatá-la com a respectiva e singela explicação de que tomaria um choque e me machucaria. Não quero com isso sugerir que os filhos se insurjam contra os pais e muito menos dizer que a criança teria plena e total capacidade de discernir o que é colocar o dedo na tomada entre outras coisas. O que pretendo é ressaltar que esse treinamento para a escuta e recebimento de informação já se inicia na infância, momento de maior maleabilidade na formação de nossa personalidade, e encontra seu ápice já na fase adulta. As idéias incutidas desse modo na mente de uma criança podem se tornar, na fase adulta, justamente as convicções opostas àquelas que supostamente deveria possuir. É assim que todo tipo de crença, superstição, pré-conceitos, etc., são impostos às pessoas, as quais não tem outra saída, devido ao treinamento que lhes foi dado desde a infância, a não ser repetir tais opiniões na vida adulta. É a partir disso que chegamos ao ponto principal de nossa breve análise: devido a esse treinamento para a escuta acrítica das informações, a sociedade contemporânea tende aceitar com grande facilidade as informações que lhes são jogadas goela abaixo, seja pelos meios de comunicação e sua propaganda deturpada, seja pelas idéias de um líder religioso, seja por amigo, etc. Se enquanto crianças somos treinados para ser uma esponja, enquanto adultos somos a configuração perfeita dessa esponja em atividade. Mas essa facilidade com que se manifesta a aceitação das idéias transmitidas por essa cultura de informação não é acidental ao indivíduo que a recebe. Como afirmamos, o treinamento para a escuta acrítica se inicia na infância, é reafirmado e consolidado na adolescência, encontrando no indivíduo já formado sua efetivação completa. Esse fenômeno da aceitação da informação recebida sem o mínimo critério de avaliação está presente inclusive no meio acadêmico. Por um lado se percebe um comodismo intelectual nos pesquisadores em diversas áreas do mundo acadêmico, os quais preferem se ancorar literalmente nas idéias já consagradas por grandes autores e simplesmente se relegam à função de nada mais fazer do que reproduzir aquele pensamento com a desculpa escarrada de que estão propondo uma nova leitura ou uma explicação mais adequada do autor defendido. Por outro lado, as próprias instituições rejeitam de maneira imediata qualquer tipo de manifestação de pensamento livre que se considere crítico. Com isso nos deparamos com um incomodante paradoxo: como nos livrar desse estado de esponja consolidado se ao mesmo tempo nos colocamos como essa esponja receptora e acrítica? Se há algum papel para os filósofos da contemporaneidade, sem eximir dessa função outras áreas, esse papel seria o de promover a libertação desse estado de esponja acrítico e possibilitar, através de uma guerra ferrenhe contra a cultura de informação, o acesso às próprias capacidades críticas do ser humano, o qual deverá passar desse estado acrítico para um crítico. Tal processo não é simples, nem pretendo nesse breve texto apontar o modo como isso deve ser feito. Ao expor o problema e colocar a pergunta: qual a saída desse estado de esponja acrítico?, acreditamos tornar possível a saída desse estado, uma vez que reconhecido o problema não haverá como escapar do incomodo causado por ele.

Thiago Oliveira

3 comentários:

  1. Bem, é bastante fácil se acomodar no fundo de uma caverna voltado para a parede, observando somente ``os comercias de TV´´ sem uma atitude filosófica de indagar.

    ResponderExcluir
  2. Pra que ter o trabalho de procurar a verdade ?
    a verdade não dói ?
    kkkkkkkkkkkkkkkkk

    como vamos viver se duvidarmos de tudo ?
    kkkk

    ResponderExcluir
  3. O problema é que a maioria das pessoas tem um certo medo de conhecer a verdade..

    ResponderExcluir