quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Fonte: site do Flávio Gikovate. O áudio foi deletado do site, mas os editores deste blog (Bule voador) fizeram download antes.

Flávio Gikovate. Foto: mixpalestras.com.br

Eis o que acontece quando um profissional de psiquiatria vive de reciclar preconceitos populares e psicanalíticos para vender livros em vez de se manter atualizado com a literatura científica – e com movimentos sociais que promovem uma visão acurada e realista, em vez de preconceituosa, sobre minorias.

Basicamente, o psiquiatra vendedor de livros afirma que:

1) Gays adoram banheiro sujo.
2) Gays adoram relações perigosas, sujas, grosseiras e sujeira em geral.
3) É mentira essa história de que não dá para “evoluir” para relação heterossexual.
4) Geralmente homens sensíveis crescem e viram gays porque são ridicularizados pela sociedade ou pelos pais que tanto os desprezaram. Os pais acabam servindo de influência para futuros modelos de atração psicológica, numa teoria freudiana concebida em priscas eras pré-científicas da psicologia.
5) Gostam de promiscuidade.

No mínimo o psiquiatra, depois de afirmar isso e muito mais na palestra, tem que ter questionada sua capacidade de acompanhar a literatura científica em sexologia e psicologia; e é claro, se retratar, afirmando textualmente que suas afirmações sobre a saúde mental dos homossexuais e a origem da homossexualidade não passam de evidências anedóticasperigosas.

Ouça aqui:
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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Reportagem

Fonte: Carta Capital

Pluralismo às avessas

Vem de Brasília, como não poderia deixar de ser, a novidade no festival de excentricidades em que se constitui a política nacional. Uma nova sigla deverá ser acrescentada à encorpada sopa de letras que define nosso sistema partidário. Depois do PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, provavelmente passaremos a contar, já nas eleições municipais de 2012, com o PPL (Partido Pátria Livre). Basta que os doutos senhores da corte máxima da Justiça Eleitoral brasileira, o TSE, concedam registro definitivo à legenda.

Não se trata de desprezo pela democracia, pelo pluralismo de idéias e pelo sagrado direito fundamental dos cidadãos – oportunamente garantido pela Constituição Federal de 1988, a primeira pós- ditadura militar – de se manifestar livremente e de participar da arena partidária nacional por meio de legendas que representem suas convicções político-ideológicas.

Muito pelo contrário. O que motiva este artigo e inspira a análise que fazemos sobre as novas legendas é o mais puro espírito democrático. Mas de que democracia falamos? A preconizada pelo filósofo e historiador italiano Norberto Bobbio, falecido em 2004. Para Bobbio, a democracia se fundamenta em três princípios: a ética, a honestidade e o respeito aos interesses da maioria, acima dos individuais.

Com a palavra, o autor: “Não há boa democracia sem costume democrático, e costume democrático significa ser honesto no exercício dos próprios negócios, leal nas trocas (…), respeitar a si e aos outros, estar consciente das obrigações, não somente jurídicas, mas também morais, que cada um de nós tem para com o próximo (…); enfim, saber distinguir e não confundir interesses privados e públicos”.

Inspirado neste conceito de democracia, este artigo se propõe a levantar uma dúvida crucial: a criação destes dois novos partidos representa, efetivamente, os interesses do conjunto da sociedade brasileira? Mais: no extenso leque de 27 siglas existentes no cenário partidário nacional, não há absolutamente nenhuma que traduza as aspirações dos criadores destas siglas?

Ruim com os partidos, pior sem eles, reza a cartilha da democracia política verde e amarela, que se assenta no pluralismo. Mas o fato é que, pluralismo à parte, quem paga a conta da criação de novos partidos somos nós, os contribuintes. Afinal, diferentes dos contribuintes, as legendas usufruem o privilégio de não pagar impostos, prerrogativa garantida pelo artigo 150 da Constituição Federal de 1988. Veiculam propaganda no horário eleitoral gratuito à custa da isenção de impostos das emissoras de rádio e TV.

E, sim, recebem dinheiro público. Está lá no site do TSE, para quem quiser conferir: de janeiro a julho de 2011, o Orçamento da União garantiu ao Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos cerca de 302 milhões de reais – 265,35 milhões de reais referentes aos duodécimos (o valor garantido a cada partido proporcionalmente à sua representação no Congresso Nacional) e 36,13 milhões de reais referentes às multas pagas pelos eleitores e candidatos condenados judicialmente).

Quem recebeu a maior bolada foi o PT (33,11 milhões reais), mas mesmo o quase desconhecido PCO (Partido da Causa Operária), o lanterna da lista, ganhou nada desprezíveis 303 mil reais. Com a ajuda do colega Silênio Vignoli, lembramos: dos 27 partidos brasileiros, apenas 22 têm representação na Câmara Federal e oito (1/3, portanto) têm apenas de um a quatro deputados.

Disto recorre o óbvio: o fato de se criar uma nova estrutura partidária não é garantia suficiente para a existência da representatividade. Esta só se dá de fato, como nos ensina Bobbio no texto que citamos, quando os interesses coletivos superam os individuais e quanto a sigla em questão tem efetiva base na maioria – de preferência, popular.

A diversidade de idéias políticas não é sinônimo de ética e nem de inteligência. Da forma como o sistema partidário tem sido conduzido, o que temos é um pluralismo às avessas, no qual a defesa das convicções de um grupo – muitas vezes sem nenhuma base no movimento social – é custeada por todos. Ou seja: as convicções são pessoais, mas quem paga a conta pela sua defesa é o coletivo. Há algo de errado no sistema partidário brasileiro. E a culpa não está nos milhões de eleitores que exercem seu sagrado direito de voto, a cada dois anos.