sexta-feira, 22 de julho de 2011

Artigo

Fonte: LiveScience

Via: Hypescience

Editor: Eduardo Patriota Gusmão Soares

Richard WisemanRichard Wiseman é mágico profissional e psicólogo americano. Intrigado com o lado inusitado da experiência humana, ele realizou pesquisas sobre sorte, mentiras e atividade paranormal.

Em seu novo livro, “Paranormalidade”, ele investiga profundamente a ciência (ou falta dela) das assombrações, fenômenos psíquicos, telepatia e outros acontecimentos supostamente inexplicáveis.

Ele não acredita em fantasmas, e acha que você não deve acreditar também. Mas, para saber o que há naquele livro, vai ser mais difícil do que você pensa. As editoras americanas disseram a Wiseman que não havia mercado para desbancar a atividade paranormal nos EUA.

Nós discordamos, é claro. Nenhuma mídia teve omitir algum lado da verdade, apenas porque o público parece gostar do outro. E qual o fascínio do paranormal? Você, leitor(a) do Bule… tem alguma história misteriosa para compartilhar?

Confira uma breve entrevista sobre o lançamento deste novo livro de Wiseman.

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Por que as pessoas são tão atraídas às crenças paranormais?

Richard Wiseman: Um dos motivos é que elas têm experiências paranormais. Na verdade, essa é a essência do livro: tentar entender por que as pessoas têm essas experiências estranhas, uma vez que espíritos não existem. Há também a noção de que as crenças são muito reconfortantes. Se você está doente, a ideia do “curador psíquico” é boa. E depois, há a influência da indústria paranormal. Os livros, os programas de televisão, as experiências psíquicas, todos têm interesse em fazer com que o público acredite nesse material.

Então você não é um crente?

RW: Não, eu tendo a ser um pouco cético. Trabalhei nessa área por cerca de 20 anos e nunca vi nada que me convencesse de que qualquer dessas coisas fosse verdade. O que eu tenho visto é que as pessoas têm experiências estranhas, quer com fantasmas ou atividades psíquicas, que nos dizem algo sobre o seu cérebro, seu comportamento e suas crenças.

O que a crença no paranormal nos diz sobre a nossa própria psicologia?

RW: Eu acho que cada coisa nos diz algo um pouco diferente. Por exemplo, a paralisia do sono, que é a noção de acordar completamente imóvel, vendo uma figura ao pé da sua cama e você se convence de que este espírito maligno ou força demoníaca está a segurando, mantendo-lhe imóvel. Isso diz muito sobre a psicologia do sono. Quando dormimos, estamos paralisados; por isso, não “agimos” o que estamos sonhando. Essa experiência do sonho pode acontecer quando você acorda junto com a paralisia.

O que, para você, é a crença mais interessante ou estranha no paranormal?

RW: Acho que fantasmas, ou a noção de que as pessoas veem algo no canto dos olhos, especialmente se estão em um local “assombrado”. É o poder da sugestão, bem como o medo. Quando estamos com medo, o sangue flui da ponta dos dedos aos músculos principais do corpo, e você se prepara hormonalmente para “fugir ou lutar”, e isso pode lhe deixar frio. Você também pode tornar-se hipervigilante, assim, você começa a perceber passos ou vozes que não teria notado antes, e assumir que é algum tipo de atividade paranormal.

Você já fez algumas investigações que “desbancaram” fantasmas. O que você descobriu?

RW: Essas investigações foram realizadas no Hampton Court Palace, um palácio real ao sul de Londres, e em Edimburgo, na Escócia, supostamente um dos lugares mais assombrados do Reino Unido. Levamos pessoas até lá e pedimos que elas dissessem quais locais pareciam mais assombrados. Elas escolhiam frequentemente os mesmos locais. Parte das razões é que os locais eram às vezes fisicamente mais frios, devido a padrões térmicos. Às vezes, eles tinham um tipo de som estranho, de baixa frequência, que pode ser causado pelo barulho do trânsito ou o vento através de uma janela aberta. Ou os lugares apenas pareciam um pouco assustadores, porque eram escuros e nós temos um cérebro que evoluiu para nos manter fora de lugares escuros por um bom motivo.

Pessoas psíquicas são um grande negócio, e você deve ter irritado algumas delas discutindo seus truques de comércio. Em todo o seu trabalho, você não encontrou nenhuma evidência de que os videntes têm capacidades especiais?

RW: Não, eu só descobri que eles são muito bons em enganar as pessoas. Nesse caso, eles têm capacidades muito especiais, mas de enganação. A crença paranormal cruza a linha entre ser divertida para se tornar algo sério. As pessoas vão para médiuns porque têm problemas, sejam pessoais ou financeiros. Mas você está falando com alguém que, ao contrário de um terapeuta profissional que lhe daria ferramentas para resolver seus problemas, apenas lhe dá conselhos. Você se torna dependente deles. E não há maneira de saber se eles estão dando bons conselhos, pois eles não são treinados para isso. Não há regulamentação no setor. Então, você está colocando sua vida nas mãos de uma pessoa que não sabemos se é confiável.

Como os videntes fazem as pessoas acreditarem neles?

RW: Há a noção de que algumas afirmações gerais são verdadeiras para todos. Como “você tem um monte de criatividade não expressa”. Todo mundo quer acreditar que isso é verdade. Ou às vezes há frases com duplo sentido, como “às vezes você gosta de ser o centro das atenções em uma festa, e às vezes você gosta de ficar em casa com um livro”. Isso é verdade para todos. No mais, as pessoas ignoram o lado que não se aplica a elas. Há a “leitura a frio” também, onde os “psíquicos” se guiam pelo que você apresenta. Eles dizem algo como “você vai viajar em breve”, e se não obter resposta, eles vão dizer que talvez seja uma pequena viagem de fim de semana, mas se você começar a balançar a cabeça em afirmativa, quase concordando inconscientemente, eles dizem que deve ser uma grande viagem. Com tudo isso, você está fazendo o trabalho para eles. Se vale algo, eles é que deveriam estar pagando você.

Seu livro é publicado no Reino Unido e em outros países, mas você não conseguiu encontrar uma editora disposta a publicá-los nos EUA. Existe uma diferença entre a crença paranormal nos EUA?

RW: Não sei bem. Eu suspeito que seja cultural. Cerca de 40 a 50% das pessoas no Reino Unido e na Europa alegam ter experiência paranormal, contra 70 a 80% nos EUA. Eu suspeito que parte disso seja a programação: livros, rádio e televisão empurrando a agenda psíquica. Acrescido de alfabetização, a ciência é maior no Reino Unido do que nos EUA, talvez por isso a indústria psíquica passe mais sua mensagem desse lado do mundo.

Para os com imaginação descontrolada, você tem alguma dica sobre como se livrar do pânico quando se está sozinho em casa e você tem certeza de que há algo bem atrás de você?

RW: Fugir aos gritos é sempre bom. Brincadeira. Apenas saber o que está acontecendo ajuda. Meu livro incentiva as pessoas a fazer sessões do tabuleiro Ouija (brincadeira famosa. Se trata de qualquer superfície plana com letras, números ou outros símbolos em que se coloca um indicador móvel, utilizada supostamente para comunicação com espíritos. Conhecida também como “brincadeira do copo”). Não se trata de convocar espíritos, mas sim do movimento dos jogadores inconscientes que empurram o copo. Peça para o espírito soletrar seu nome. Se colocar as letras viradas para baixo e misturadas, vai ver como o “espírito” se tornará disléxico. Da mesma forma, depois de entender a paralisia do sono, ela não é tão assustadora. Ao compreender essas coisas, elas se tornam muito menos “fantasmagóricas” e bem mais plausíveis.


Link: livescience

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Artigo

Publicado em 29 de maio de 2011

astral projection ceticismo

Artigo de Alex Likerman, publicado em Happiness in this World

Traduzido por colaboração de Rodrigo Véras e André Rabelo

Eu nunca tive um paciente que confessasse ter tido uma experiência de quase morte (EQM), mas recentemente me deparei com um livro fascinante chamado O Portal Espiritual no Cérebro (The Spiritual Doorway in the Brain) de Kevin Nelson, que relata que cerca de 18 milhões de americanos podem ter tido uma. Se for verdade, é provável não apenas que alguns dos meus pacientes estejam entre eles, mas também alguns dos meus amigos. O que me levou a pensar: o que exatamente a ciência tem a nos dizer sobre a sua causa?

Que EQMs acontecem não está em disputa. A sequência e os tipos de eventos dos quais elas são compostas são suficientemente similares entre as pessoas que as relatam de tal forma que EQMs poderiam ser consideradas como algum tipo de síndrome, semelhante a uma doença sem causa conhecida. Mas apenas porque milhões de pessoas já viveram EQMs, isso não significa que a explicação mais comumente aceita para elas – que almas deixam os corpos e encontram deus ou alguma outra evidência de vida após a morte – esteja correta.

Afinal de contas, as pessoas interpretam erroneamente as suas experiências o tempo todo (uma ilusão ótica representando o exemplo mais básico). Sem dúvida, muitas pessoas que relatam EQMs são profundamente afetadas por elas, mas, geralmente, mais como um resultado de suas interpretações das experiências (i.e., “a vida após a morte é real”) do que como resultado da experiência em si. Acontece que um número de observações reproduzíveis combinado com uma pitada de conjecturas gerou uma explicação neurológica inteiramente plausível para todos os casos de experiências que incluam EQM.

Em seu livro, Nelson comenta que normalmente 20% do fluxo sanguíneo é direcionado para o cérebro, mas que este fluxo pode abaixar para 6% antes de ficarmos inconscientes (e mesmo nesse nível, nenhum dano permanente será causado). Nelson ainda observa que quando nossa pressão sanguínea diminui demais e desmaiamos, o nervo vago (um longo nervo que se conecta com o coração) desloca a consciência para o sono REM – mas não totalmente em algumas pessoas. Um número de sujeitos parece ser suscetível ao que ele chama de “intromissão REM”.

A intromissão REM ocorre tipicamente, quando ocorre, na transição da vigília para o sono. Nelson descobriu em sua pesquisa que o funcionamento do mecanismo que alterna as pessoas entre o sono REM e a vigília tendeu a ser diferente naquelas que relataram EQMs. Nessas pessoas, ele descobriu que a mudança era mais propensa a “fragmentar e misturar” esses dois estados de consciência (o controle do nosso estado de consciência é localizado no nosso tronco cerebral e é precisamente regulado), fazendo com que essas pessoas exibam simultaneamente características de ambos. Durante a intromissão REM, as pessoas se viram paralisadas (“paralisia do sono”), totalmente despertas, mas experimentando luzes, sensações fora do corpo e narrativas surpreendentemente vívidas. Durante o sono REM, muitos dos centros de prazer do cérebro são estimulados também (animais que tiveram suas regiões REM danificadas perderam todo o interesse em comida e até em morfina), o que pode explicar os sentimentos de paz e unicidade também relatados durante EQMs.

centrifuge blackout ceticismo

A neurofisiologia também pode explicar o sentimento de estar se movendo através de um túnel, tão regularmente mencionado em EQMs. É bem sabido que pessoas experimentam uma “visão de túnel” imediatamente antes de desmaiar. Experimentos com pilotos giradosem centrífugas gigantes têm reproduzido o fenômeno de visão de túnel, aumentando as forças G e diminuindo o fluxo sanguineo em suas retinas (a periferia da retina é mais suscetível a quedas na pressão sanguínea do que o seu centro, de tal forma que o campo de visão parece comprimido, fazendo cenas parecerem vistas dentro de um túnel). Quando óculos especiais que geram sucção foram colocados nos olhos dos pilotos para neutralizar o efeito de queda da pressão sanguínea da centrífuga, os pilotos perderam a consciência sem desenvolver o efeito da visão de túnel – provando que a experiência da visão de túnel é causada por uma redução no fluxo sanguineo dos olhos.

Talvez o aspecto mais intrigante das EQMs seja o quão costumeiramente elas estão associadas com experiências fora do corpo. Isso também, entretanto, trata-se de uma ilusão. Evidências de que experiências fora do corpo nada têm a ver com almas deixando corpos podem ser encontradas na observação de que elas também têm sido relatadas por pessoas acordando do sono, recuperando-se de anestesia, enquanto estão desmaiando, durante convulsões, durante enxaquecas e quando estão em altas altitudes (não há razão para pensar que as almas das pessoas estão deixando seus corpos durante nenhuma dessas situações não ameaçadoras para a vida).

Mas as evidências mais fascinantes de que experiências fora do corpo são fenômenos neurológicos vêm dos estudos feitos inicialmente na década de 1950 por um neurocirurgião chamado Penfield. Ele estava interessado em compreender como poderia distinguir tecidos cerebrais normais de tumores cerebrais ou “cicatrizes” que eram responsáveis por causar convulsões. Ele estimulou os cérebros de centenas de pacientes conscientes no esforço de mapear o córtex cerebral e entender aonde em nossos cérebros nosso corpo físico é representado.

Um paciente sofria de danos no lobo temporal e quando Penfield estimulou a região temporoparietal do seu cérebro, ele relatou ter deixado o seu corpo. Quando a estimulação parou, ele “voltou”, e quando Penfield estimulou a região temporoparietal de novo, ele deixou o seu corpo mais uma vez. Penfield também descobriu quando variava a corrente e a localização do estímulo, podia fazer os membros do seu paciente parecerem encurtados ou produzir uma cópia de seu corpo que existia ao seu lado!

Em o Cérebro Contador de Histórias (The Tell-tale Brain), V. S. Ramachandran descreve um paciente que teve um tumor removido da sua região frontoparietal direita e desenvolveu um “gêmeo fantasma” ligado ao lado esquerdo do seu corpo. Quando Ramachandran colocou água fria no seu ouvido (um procedimento conhecido como teste calórico de água fria, o qual estimula o sistema de equilíbrio do cérebro, conhecido por ter conexões com a região frontoparietal), o gêmeo do paciente se afogou, movimentou-se e mudou de posições.

Neurologistas têm reconhecido desde então que a região temporoparietal do cérebro é responsável por manter a representação de nossos esquemas corporais. Quando uma corrente externa é aplicada nessa região, ela para de funcionar normalmente e nossarepresentação do corpo “flutua”. Outras evidências de que esse fenômeno é uma ilusão vêm de experimentos nos quais as pessoas que tiveram experiências fora do corpo enquanto passavam do sono para a vigília eram incapazes de identificar objetos colocados no quarto depois que adormeciam, sugerindo fortemente que a imagem que viram deles mesmos dormindo nas suas camas era reconstruída em sua memória. Embora não exista ainda nenhuma evidência de que níveis baixos de oxigênio no sangue causem disfunção da região temperoparietal da mesma forma que uma corrente aplicada, esta permanece como uma hipótese testável e a explicação mais provável.

Em suma, embora longe de estar provada como uma explicação para o que realmente explica as EQMs, a hipótese da intromissão REM tem mais evidências para corroborá-la do que a idéia de que nós realmente deixamos nossos corpos quando a morte está à espreita.


Fonte: ceticismoaberto

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Artigo

Ainda arranjarei um tempo para expor minhas próprias opiniões novamente nesse blog, mas a ocupação com aulas e doutorado me toma o pouco tempo que tenho. Enquanto isso, repassarei todas os artigos e reportagens com os quais concordo e cujas ideias defendo. Segue mais um artigo exposto no site bule voador sobre o tema bastante discutido na atualidade, a saber, a homoafetividade. Boa leitura.


Fonte: Uma Visão do Mundo

Autor: Eduardo Patriota Gusmão Soares

Protesto religioso: God Hates Fags (Deus Odeia Viados)

Religiosos comparecem a enterros de gays com cartazes dizendo que deus odeia gays

Gays, lésbicas, simpatizantes, homofobia, PL 122, união homoafetiva. Temas em pauta nas nos debates entre conservadores, homossexuais e defensores dos direitos humanos. Um enorme gasto de energias e esforços para resolver algo que, a priori, sequer é um problema. Retomaremos este ponto mais tarde, mas agora precisamos entender como chegamos às trincheiras desta guerra e toda a falta de sentido que a caracteriza.

O texto é longo, compilado de vários lugares. Dividi-o em partes para facilitar a leitura. Aos que já conhecem sobre as matérias, deixo minha opinião na parte de conclusão deste texto.

A homossexualidade na antiguidade

Embora não valha completamente para provar que havia total e irrestrita liberdade sexual, sem discriminações, nos povos antigos, vale observar um pouco como era a vida sexual naquela época.

As tribos das ilhas de Nova Guiné, Fiji e Salomão, no oceano Pacífico, cerca de 10 mil anos atrás já exercitavam algumas formas de homossexualidade ritual. Os melanésios acreditavam que o conhecimento sagrado só poderia ser transmitido por meio do coito entre duplas do mesmo sexo. No rito, um homem travestido representava um espírito dotado de grande alegria – e seus trejeitos não eram muito diferentes dos de um show de drag queens atual.

Um dos mais antigos e importantes conjuntos de leis do mundo, elaborado pelo imperador Hammurabi na antiga Mesopotâmia em cerca de 1750 a.C., contém alguns privilégios que deveriam ser dados aos prostitutos e às prostitutas que participavam dos cultos religiosos. Eles eram sagrados e tinham relações com os homens devotos dentro dos templos da Mesopotâmia, Fenícia, Egito, Sicília e Índia, entre outros lugares. Herdeiras do Código de Hammurabi, as leis hititas chegam a reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo. E olha que isso foi há mais de 3 mil anos.

Sexo entre homens retratado em vaso gregoNa Grécia e na Roma da Antiguidade, era absolutamente normal um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem. O filósofo grego c (469-399), adepto do amor homossexual, pregava que o coito anal era a melhor forma de inspiração – e o sexo heterossexual, por sua vez, servia apenas para procriar. Para a educação dos jovens atenienses, esperava-se que os adolescentes aceitassem a amizade e os laços de amor com homens mais velhos, para absorver suas virtudes e seus conhecimentos de filosofia. Após os 12 anos, desde que o garoto concordasse, transformava-se em um parceiro passivo até por volta dos 18 anos, com a aprovação de sua família. Normalmente, aos 25 tornava-se um homem – e aí esperava-se que assumisse o papel ativo.

Entre os romanos, os ideais amorosos eram equivalentes aos dos gregos. A pederastia (relação entre um homem adulto e um rapaz mais jovem) era encarada como um sentimento puro. No entanto, se a ordem fosse subvertida e um homem mais velho mantivesse relações sexuais com outro, estava estabelecida sua desgraça – os adultos passivos eram encarados com desprezo por toda a sociedade, a ponto de o sujeito ser impedido de exercer cargos públicos.

Boa parte do modo como os povos da Antiguidade encaravam o amor entre pessoas do mesmo sexo pode ser explicada – ou, ao menos, entendida – se levarmos em conta suas crenças. Na mitologia grega, romana ou entre os deuses hindus e babilônios, por exemplo, a homossexualidade existia. Muitos deuses antigos não têm sexo definido. Alguns, como o popularíssimo hindu Ganesh, da fortuna, teriam até mesmo nascido de uma relação entre duas divindades femininas. Não é nada difícil perceber que, na Antiguidade, o sexo não tinha como objetivo exclusivo a procriação. Isso começou a mudar, porém, com o advento do cristianismo.

As origens e causas do preconceito e perseguição aos homossexuais

O judaísmo já pregava que as relações sexuais tinham como único fim a máxima exigida por Deus: “Crescei e multiplicai-vos”. Diferentemente dos deuses dos povos vizinhos de Israel, a sua divindade era alheia à sexualidade, embora exortasse os homens à procriação, único fito aceitável da atividade sexual, pelo que a sua única modalidade admissível correspondia à intromissão do pênis na vagina, visando à gravidez. Segundo a Bíblia, todo e qualquer ato sexual que não resulte, potencialmente, ao menos, em procriação, é antinatural e condenado por deus, o que tornou os judeus uma exceção, dentre as civilizações antigas, na sua condenação da atividade sexual estéril, o que incluía a homossexualidade.

Até o início do século 4, essa idéia, porém, ficou restrita à comunidade judaica e aos poucos cristãos que existiam. Nessa época, o imperador romano Constantino converteu-se à fé cristã – e, na seqüência, o cristianismo tornou-se obrigatório no maior império do mundo. Como o sexo passou a ser encarado apenas como forma de gerar filhos, a homossexualidade virou algo antinatural. Data de 390, do reinado de Teodósio, o Grande, o primeiro registro de um castigo corporal aplicado em gays.

Do cristianismo provém uma alteração das mentalidades e os critérios intelectuais da condenação, crescente, da homossexualidade e de qualquer atividade sexual estéril. Ele formulou quatro opiniões:

1ª- a de que a homossexualidade ligava-se ao comportamento de certos animais, reputados como impuros, a saber, a lebre, a hiena, a doninha;

2ª – a de que a homossexualidade relacionava-se com o politeísmo, com o qual o cristianismo antagonizava (afinal, diversos povos na época aceitavam a homossexualidade, já que seus deuses a praticavam);

3ª – a de que a sexualidade natural correspondia à destinada reprodução e de que a homossexualidade era anormal no sentido de infreqüente;

4ª – a de que o papel de súcubo era vergonhoso.

O primeiro texto de lei proibindo sem reservas a homossexualidade foi promulgado mais tarde, em 533, pelo imperador cristão Justiniano. Ele vinculou todas as relações homossexuais ao adultério – para o qual se previa a pena de morte. Mais tarde, em 538 e 544, outras leis obrigavam os homossexuais a arrepender-se de seus pecados e fazer penitência. O nascimento e a expansão do islamismo, a partir do século 7, junto com a força cristã, reforçaram a teoria do sexo para procriação.

Durante muito tempo, até meados do século 14, no entanto, embora a fé condenasse os prazeres da carne, na prática os costumes permaneciam os mesmos. A Igreja viu-se, a partir daí, diante de uma série de crises. Os católicos assistiram horrorizados à conversão ao protestantismo de diversas pessoas após a Reforma de Lutero. E, com o humanismo renascentista, os valores clássicos – e, assim, o gosto dos antigos pela forma masculina – voltaram à tona. Pintores, escritores, dramaturgos e poetas celebravam o amor entre homens. Além disso, entre a nobreza, que costumava ditar moda, a homossexualidade sempre correu solta. E, o mais importante, sem censura alguma – ficaram notórios os casos homossexuais de monarcas como o inglês Ricardo Coração de Leão (1157-1199).

No curto intervalo entre 1347 e 1351, a peste negra assolou a Europa e matou 25 milhões de pessoas. Como ninguém sabia a causa da doença, a especulação ultrapassava os limites da saúde pública e alcançava os costumes. O “pecado” em que viviam os homens passou a ser apontado como a causa dela e de diversas outras catástrofes, como fomes e guerras. Judeus, hereges e sodomitas tornaram-se a causa dos males da sociedade. Não havia outra solução a não ser a erradicação desses grupos. Medidas enérgicas foram tomadas. Em Florença, por exemplo, a sodomia foi proibida em 1432, com a criação dos Ufficiali di Notte (agentes da noite). O resultado? Setenta anos de perseguição aos homens que mantinham relações com outros. Entre 1432 e 1502, mais de 17 mil foram incriminados e 3 mil condenados por sodomia, numa população de 40 mil habitantes.

Leis duras foram estabelecidas em vários outros países europeus. Na Inglaterra, o século 19 começou com o enforcamento de vários cidadãos acusados de sodomia. E, entre 1800 e 1834, 80 homens foram mortos. Apenas em 1861 o país aboliu a pena de morte para os atos de sodomia, substituindo-a por uma pena de dez anos de trabalhos forçados.

A homossexualidade é tão natural (ainda que incomum) quanto a heterossexualidade

O zoologista da Universidade de Oslo, Petter Böckman, afirma que são conhecidas mais de 1.500 espécies de animais que praticam sexo com parceiros do mesmo gênero. “A grande questão é como explicar qual é o sentido evolutivo”, diz César Ades, etólogo (especialista em comportamento animal) da USP (Universidade de São Paulo). “A atividade homossexual pode ser uma maneira de reduzir conflitos sociais entre indivíduos do mesmo grupo, de fortalecer as escalas de dominância e de criar alianças.”

“Porém, é importante ressaltar que tais comportamentos são muito variados e não podem ser entendidos, como um todo, como idênticos à homossexualidade no ser humano, que se insere numa realidade sócio-cultural complexa. Mas podem indicar a generalidade de certos processos de atração entre indivíduos do mesmo sexo”, explica.

Os autores de um estudo de 2009, Nathan Bailey e Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, dão um exemplo. Veja as fêmeas do albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), do Havaí. Essas aves se unem em casais lésbicos que às vezes duram a vida inteira para criar os filhotes, especialmente quando há escassez de machos. Até um terço dos casais da espécie são formados por fêmeas. O resultado é que elas têm mais sucesso do que fêmeas “solteiras” na criação dos filhotes. O comportamento homossexual, portanto, muda a dinâmica da população – e pode ter consequências evolutivas importantes.

Alguns estudos recentes sugerem que fatores neurobiológicos podem influenciar na orientação sexual dos homens. Cientistas suecos descobriram que o cérebro dos homossexuais é parecido com o de pessoas do sexo oposto ao de sua orientação. Dito de outra forma, o cérebro de um homem homossexual teria semelhanças com o de uma mulher, enquanto o de uma lésbica seria similar ao de um homem hetero.

Apesar de quase um século de especulação psicoanalítica e psicológica, não existe evidência substancial que suporta a hipótese de que a natureza da orientação sexual dos pais ou as experiências infantis tem algum papel na formação fundamental da orientação heterossexual ou homossexual. A orientação sexual é biológica em sua natureza, determinada por uma complexa rede de fatores genéticos e do desenvolvimento uterino inicial.

Por consenso mundial, homossexualidade não é doença, nem transtorno, tampouco um problema a ser tratado

Desde dezembro de 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como transtorno mental pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), sendo retirada do Manual de Diagnóstico e Estatística de Desordens Psiquiátricas; em 1975, a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento, deixando de considerar a homossexualidade como doença, distúrbio ou perversão.

No Brasil, em 1985, o Conselho Federal Medicina (CFM) deixa de considerar a homossexualidade como desvio sexual, esclarecendo aos médicos, em particular aos psiquiatras, que homossexualismo não pode ser aplicado nem sustentado como diagnóstico médico.

A 43ª Assembléia Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), no dia 17 de maio de1990, retirou a homossexualidade da sua lista de doenças ou transtornos mentais, suprimindo-a do Código Internacional de Doenças (CID-10), a partir de 1993.

Em 1991, a Anistia Internacional passa a considerar a discriminação contra a homossexualidade como violação aos direitos humanos.

Em 22 de março de 1999, o Conselho Federal de Psicologia, por meio da resolução 01/1999, estabelece normas para atuação dos psicólogos em relação à questão da orientação sexual, pois, “…considerando que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão (…) e que a Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações (…)”;

A homossexualidade não torna ninguém pervertido

Ricky Martin, gay assumido, tem filhos e grande responsabilidade social

Ricky Martin, gay assumido, posa com seus filhos para foto. O cantor mantém uma fundação, a Ricky Martin Foundation, que ajuda crianças em todo o mundo, combatendo o tráfico, violência, doenças e a fome.

A compilação abaixo foi realizada por Francisco Boni, membro do Conselho de Mídia da LiHS. As fontes das pesquisas podem sem encontradas no site Paul Cameron Refutado.

Há um mito, propagado pela Direita Cristã, de que homossexuais engajam em comportamentos promíscuos. Seguramente, há homossexuais que engajam em tal comportamento. Mas há heterossexuais que fazem a mesma coisa. É importante notar a tendência substância heterossexista que faz com que as pessoas ignorem as falhas heterossexuais enquanto focam nas falhas homossexuais.

Em um estudo de comportamento sexual em homossexuais e heterossexuais, os pesquisadores descobriram que dos homens bissexuais e gays, 24% tiveram um parceiro durante toda vida, 45% tiveram 2-4 parceiros homens, 13% tiveram 5-9 parceiros homens, e 18% tiveram 10 ou mais parceiros sexuais, o que produz uma média de 6 parceiros (p. 345)(n=97 de homens gays de um total de 1450 homens). Em um estudo paralelo, uma amostra aleatória de homens heterossexuais (n=3111 homens que tiveram sexo vaginal; de uma amostra total de n=3224, somente 2.3% indicaram terem feito sexo com homens e mulheres), o número médio de parceiros sexuais foi 7.3%, com 28.2% com 1-3 parceiros sexuais, 23.3% tendo mais de 19 parceiros. Isso indica que homens gays tem um número de parceiros sexuais menores que heterossexuais.

Homossexuais não possuem predisposição a serem pedófilos. Em uma amostra aleatória de 175 casos de abusadores sexuais der crianças 76% reportam terem comportamento exclusivamente heterossexual, e 24% reportam comportamento bissexual. A atração sexual por crianças não é relacionada à orientação sexual

Em um segundo estudo de 1206 condenações de abusadores de crianças em Nova Jersey, 80.7% eram heterossexuais e 19% eram homossexuais.

Em um terceiro estudo, 47% dos homens condenados por abuso sexual contra crianças (meninos) estavam dentro de um casamento heterossexual.

Em um quarto estudo na Inglaterra, em uma revisão de 200 ataques sexuais à garotos, apenas 32 dos perpetradores eram homossexuais.

Em um quinto estudo de 148 abusadores que atacaram sexualmente crianças em Massachusetts, 71 (51%) selecionaram meninas, e 31 (21%) atacaram meninos e meninas, Ainda, os autores reportam que “os condenados atraídos por meninos reportaram que não tem interesse em relações homossexuais entre adultos e acharam a aparência feminina dos meninos juvenis atraente…” (p.20) Os pedófilos eram atraídos por crianças e adultos (51%), 83% exclusivamente heterossexuais, e 17% bissexuais.

Em um sexto estudo de 136 condenados, mais de 80% estavam envolvidos em relações adultas heterossexuais de longa data.

Em um sétimo estudo no Hospital Infantil de San Diego, dos 140 garotos que foram atacados, apenas 4% foram atacados por homossexuais.

Em um oitavo estudo, também em um hospital infantil, de 269 crianças avaliadas para abuso sexual por adultos conhecidos, 0.7% das crianças foram abusadas por um homossexual e 88% foram abusados por heterossexuais. O resto das crianças (de um total de 352) foram ou abusadas por outras crianças ou adolescentes (21% da amostra total, daqueles que foram abusados por crianças/adolescentes do sexo oposto), ou por estranhos cuja orientação sexual era desconhecida (11.6%).

Finalmente, a discussão sobre se homossexuais vs heterossexuais estão mais propensos à molestar crianças ignora completamente a pesquisa atual a cerca da psicopatologia do molestador de crianças. Por definição, o pedófilo é uma pessoa que é atraída por crianças. Já que crianças, típicamente, não apresentam características sexuais secundárias diferenciadas como adultos, o heterossexual ou homossexual típico não são sexualmente atraídos por crianças. Se um adulto é atraído por uma criança, isso está relacionado com sua vulnerabilidade. Mesmo que a criança seja um menino sendo abusado por um homem adulto, o pedófilo não está atraído por características masculinas exatamente, como encontrado pelo estudo feito por Groth, o que seria presumido se o abusador fosse, de fato, “homossexual”.

Ainda existem uma longa lista de estudos utilizando vários métodos clínicos e outras revisões e meta-análises apontando nenhuma psicopatologia correlacionada diretamente com a homossexualidade, evidenciando ser uma orientação sexual normal como a heterossexualidade.

Por fim, uma recente pesquisa feita sobre o público gay antes da Parada de 2011 em São Paulo, descobriu-se que mais de 54% dos casais homossexuais mantém uma relação estável com seu parceiro há mais de 3 anos. Isso é mais do que muito casamento por aí.

Conclusão

Muitos não gostam de homossexuais. Isso é completamente aceitável. Tanto quanto muitos não gostam de rockeiros, pagodeiros, nerds, petistas, democratas, corintianos, flamenguistas, negros, branquelos, etc. Não é o gosto que é o problema. Você não é preconceituoso se não gostar disso ou daquilo. Você está no seu direito. O problema começa quando passamos a tratar de forma desigual e injusta o outro, penalizando-o apenas por “não gostar” de uma característica daquela pessoa.

Gay é espancado ao sair de boate em NiteróiNo caso dos gays, o problema vai muito além do tratamento desigual e injusto. Pais renegam os próprios filhos, chegando a expulsá-los de casa! Vale a pena ver o documentário “For the Bible Tells Me So” que mostra o arrependimento de uma mãe que não pôde fazer as pazes com a filha renegada, pois, esta se matou devido à pressão por sua simples condição de gay. Será mesmo que vale a pena se desfazer da companhia de uma pessoa que você ama apenas porque ela gosta de algo que um livro escrito há milhares de anos, por uma pessoa totalmente desconhecida, diz ser ruim?

Pessoas são espancadas e até mortas por uma questão estritamente pessoal, de foro mais do que íntimo e que não diz respeito a mais ninguém. Em 2010,no Brasil, foram documentados 260 assassinatos de gays, travestis e lésbicas, 62 a mais que em 2009 (198 mortes), um aumento 113% nos últimos cinco anos (122 em 2007).

Na África do Sul, por exemplo, uma onda de casos de estupros e assassinatos são cometidos por homens contra mulheres homossexuais, aparentemente com o objetivo de “corrigir” suas orientações sexuais, está assustando. Segundo estimativas, pelo menos 31 mulheres já morreram no país vítimas desse tipo de ataque nos últimos dez anos.

Em São Paulo, Edson Néris da Silva, que era adestrador de cães, passeava de mãos dadas com seu companheiro, Dario Pereira Netto, na Praça da República, região tradicionalmente frequentada por gays, quando foi surpreendido pelo grupo de neonazistas conhecido como Carecas do ABC. Dario conseguiu escapar, mas Edson foi cercado e brutalmente agredido com chutes e golpes de soco-inglês até a morte.

No Irã, um alto funcionário do governo, Mohsen Yahyavi, admitiu que gays devem ser torturados e executados. De preferência, sofrer as duas penas. É um país onde ser gay é crime capital e recentemente 2 garotos foram chicoteados e enforcados em praça pública porque… eram gays! Como se isso mudasse a vida do vizinho, ou do clérigo que mora em outra cidade, ou de qualquer pessoa que não eles próprios apenas! Com esta intolerância religiosa, estima-se que milhares e milhares de gays já tenham sido condenados à morte no Irã.

Jovens gays foram chicoteados e condenados à morte por enforcamento no IrãAgora, imagine a cena. Você nasce num país onde ser gay é crime punível com a morte. Seu filho ou filha, por obra da natureza (conforme já demonstrado anteriormente) nasce gay. Imagina o sofrimento desta pessoa por ter que viver em constante medo, ser impossibilitada de amar um outro ser humano (por favor, estamos falando em AMAR! Por que religiosos só querem saber de matar ou prejudicar uma pessoa que quer AMAR?) e ainda viver escondida com medo de morrer. É este tipo de sociedade de queremos? Então, por que construí-la, passo-a-passo, apoiando ou tolerando pastores homofóbicos que vomitam palavras de um ódio insano contra pessoas que só querem ser felizes em paz?

Como no vídeo abaixo da entrevista do Jô Soares, afinal, o que tanto incomoda um religioso se o vizinho é gay ou não? Ainda que homossexualidade fosse uma opção do indivíduo, o que eu ou você temos a ver com isso? Aliás, por que discriminar um gay e não um homem que anda com a bíblia debaixo do braço, mas trai a esposa com várias garotas de programa? Claro… o primeiro é doença, o segundo um “deslize”, um “descuido”. O primeiro é perversão, o segundo um “homem excessivamente viril”.

Os preconceituosos miram o alvo errado e perpetuam uma sociedade hipócrita, com famílias que se desfazem devido ao “pai garanhão vigoroso” (porém, devoto fervoroso de Cristo). Afinal, o que faz mais mal à sociedade? Famílias destroçadas ou um casal gay se amando na intimidade de seus quartos? Não vejo como pessoas se amando (ou no mínimo se divertindo) na privacidade de suas casas possam causar mal a alguém. Não me lembro do padre local vir se queixar com uma mãe que o filho dela andava jogando muito videogame. Ou que passava muito tempo jogando bola ou vendo televisão. Então, por que se importa se o filho desta mesma senhora está dentro de sua própria casa beijando outro homem?

Richard Dorr, 84 anos, e John Mace, 91 anos. Casal gay junto há 61 anos espera nova lei de Nova York para se casarÉ um tipo de ódio e repulsa que não tem outra origem que não o fundamentalismo de clérigos que, muitas vezes, nem são lá tão crentes do que eles mesmos falam, usando suas igrejas como meio de controle e enriquecimento financeiro e político. Vivemos num mundo onde o meio-ambiente pede socorro, há crianças morrendo, animais sendo maltratados, políticos roubando merenda de crianças famintas, governantes desviando dinheiro de hospitais onde a população morre. E, ainda assim, os que nada têm dão 10% do pouco de ganham para suas igrejas e vão às passeatas (convocadas por seus rechonchudos e corados pastores) para evitar que homossexuais que eles não conhecem, dos quais não conhecem a trajetória de vida (muitas vezes, muito mais limpa, decente e construtiva que a de seus pastores) e que talvez nunca venham a encontrar pessoalmente, possam se casar.

Afinal, se estes homossexuais estão gozando de plenos direitos, pagam seus impostos e cumprem a lei como todos os demais cidadãos, qual o fundamento em não permitir que eles se casem? Implicância religiosa. Gente mimada que não cresceu e quer que tudo seja do seu gosto. Intolerantes incapazes de conviver com o diferente. Gente que não tem nada o que fazer na vida, a não ser sair de porta em porta aos domingos pregando a bíblia para quem mal se levantou da cama. Gente que não tem objetivo na vida, a não ser cuidar da dos outros (como se estivessem precisando).

Toleramos a corrupção, mas não toleramos um casal que se ama. Aceitamos um religioso que bate em sua mulher por direito bíblico, mas não aceitamos um singelo e discreto beijo entre dois homens em público. Veneramos celebridades que se casam e se separam dezenas de vezes, quase que esculachando o matrimônio, mas não admitimos que um casal gay junto há décadas possa oficializar sua união. Enfim, as pessoas lutam por um mundo cada vez pior, quando deveria ser o contrário.

Infelizmente, muitas pessoas não ouvirão o clamor humanista pela tolerância sexual. Talvez, estas pessoas só passarão a entender o que estas palavras sobre tolerância querem construir, quando o filho ou filha homossexual chegar em casa aos prantos, humilhado por brincadeiras de colegas da escola. Ou, quem sabe, ainda pior: quando o ente querido chegar espancado ou num caixão lacrado, vítima de algum crime de intolerância sexual. Escutem os pastores por dias ainda mais sombrios, ou juntem-se aos defensores dos direitos humanos por um futuro mais tolerante e um mundo mais seguro e justo para todas as pessoas de bem. Não há meio termo. De que lado da trincheira você está?


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=jZclI6pza6Q

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