sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Reportagem

Breve reflexão

Breve reflexão

Sobre história e cultura árabes e sobre violência e hipocrisia ocidentais. Por Mino Carta. Foto:Philippe Body/Hemis.FR/AFP

Sobre história e cultura árabes e sobre violência e hipocrisia ocidentais

E me vem à mente a Andaluzia, não aquela invadida pelos reis católicos e seus padres vingativos, precursores do nazismo com seus autos de fé, e sim aquela que foi árabe por 700 anos. Quem tiver a ventura de se encontrar com a Alhambra em Granada, ou a Grande Mesquita de Córdoba, ou o Alcazar em Sevilha, não escapará à constatação da grandeza de uma civilização capaz de produzir obras tão deslumbrantes. Comovedoras, poéticas.

Não é que faltem outras provas da extraordinária contribuição da cultura árabe ao progresso da humanidade, e em todos os quadrantes. Por um largo período, séculos e séculos, o pensamento árabe foi decisivo nas artes e nas ciências, da escrita à matemática, da arquitetura à astronomia. Mas eu retorno, neste instante, às cidades andaluzas, onde os templos dos conquistadores aceitavam ao seu redor as juderias, os bairros judeus. Bairros e não guetos.

A conveniência entre árabes e judeus era muito diferente daquela que hoje se verifica no Oriente Médio. Pacífica, então, baseada na colaboração e no intercâmbio, feliz, tudo indica, dentro das possibilidades humanas de viver a felicidade. Diga-se que, longe da Grande Mesquita e da juderia que a cerca, ou ao descer da altura risonha onde se planta a Alhambra, Córdoba e Granada apresentam, fisicamente, alguma semelhança com Sorocaba.

Lembranças suscitam ideias e estas nos permitem viajar no tempo e no espaço. Ocorre-me o devaneio de Lawrence da Arábia em contraste à prepotência e à ferocidade dos turcos otomanos, da Grã-Bretanha e da França, que se esmeraram no projeto de fracionar a terra árabe a seu talante e em exclusivo proveito dos seus interesses imperialistas. Atrocidades morais e materiais foram cometidas pelos donos do poder global às margens daquele imenso golfo do Mediterrâneo, e à constante agressão acabaram por unir-se os Estados Unidos, debaixo do olhar condescendente de todo o Ocidente.

Fala-se muito de Hitler, com excelentes motivos, mas ninguém se incomodou com a chacina de 1 milhão e 200 mil armênios perpetrada pelo Império Otomano, o genocídio do começo do século passado. Resta o fato de que o Estado de Israel nasceu de súbito na Palestina, cujos habitantes ficaram exilados em sua própria terra. Pretendeu-se remir o monstruoso pecado do Holocausto, mas também postar o sentinela da civilização ocidental no coração da área humilhada.

E mais ainda pelos senhores locais, que se prestaram ao jogo ocidental, como Mubarak, por exemplo. Com Kaddafi a política das potências do Oeste ficou entre o cinismo e a hipocrisia, à sombra de uma inextinguível tentativa de negociação de paz e bem do fornecimento ininterrupto do petróleo. Vale lembrar que logo depois do golpe de Kaddafi, a aeronáutica líbia foi equipada com os Mirage franceses, enquanto a Alemanha contribuía para a criação na Líbia de uma indústria química de peso e a Itália baixava a cabeça diante da expulsão de 15 mil italianos do território líbio. Quanto aos Estados Unidos, depois de várias tentativas de assassinar o ditador, em 1986 revogaram as sanções econômicas quando Kaddafi aposentou seus projetos nucleares.

Não se esqueça que em 2009 a Grã-Bretanha libertou e devolveu à Líbia o autor do atentado de 1988 no céu de Lockerbie e que a Itália de Berlusconi de alguns anos para cá trata o coronel como grande estadista, recebe-o com pompa, assina com ele acordos de interesse nacional, sem contar aqueles de interesse privado do premier, talvez tomado de inveja por causa do harém do ditador, sempre incluído no seu séquito onde quer que viaje.

Pode parecer estranho que um forte e sadio exemplo de rebelião parta de uma região tão ofendida neste nosso mundo cada vez mais parvo e desigual. Se penso, porém, nas tradições árabes, na cultura de uma civilização que já foi dominante, não me surpreendo. E recordo os monumentos da Andaluzia.

PS. Por intermédio do carteiro e senador Eduardo Matarazzo Suplicy recebemos, Wálter Fanganiello e o acima assinado, uma carta em inglês da senhora Fred Vargas, a repetir suas teses peculiares contra a extradição de Cesare Battisti. Nada de novo, daí a inutilidade de uma resposta, a não ser a seguinte, que adoto como padrão, conforme exemplo do chanceler Antonio Patriota: entre Brasil e Itália foi assinado um tratado de extradição há cerca de 13 anos, o qual, aprovado pelos dois parlamentos, ganhou força de lei. Donde, respeite-se a lei. Não respeitá-la significa rasgar o acordo. Fica a pergunta: se o Brasil acredita em Fred Vargas e desacredita da Justiça do Estado Democrático de Direito italiano, por quais singulares cargas d’água assinou o tratado?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Artigo

Artigo retirado do site ateus.net

O universo tem um propósito? Improvável!

Talvez você esperasse uma afirmação mais forte, num sentido ou noutro. Mas, como cientista, não acho que possa fazê-lo. Enquanto nada na biologia, química, física, geologia, astronomia ou cosmologia jamais forneceu evidências diretas de haver propósito na natureza, a ciência nunca poderá provar acima de qualquer dúvida que tal propósito não existe. Como disse Carl Sagan, em outro contexto: "ausência de evidência não é evidência de ausência".

Naturalmente, nada impediria que a ciência descobrisse evidências positivas de orientação ou propósito divinos, se estas estivessem ao nosso alcance. Por exemplo, se amanhã à noite olhássemos as estrelas, e elas estivessem organizadas em um padrão que diz “Estou aqui”, acho que até os céticos mais aferrados da ciência suspeitariam que algo está acontecendo.

Mas nenhum desses sinais inequívocos foi encontrado entre os milhões e milhões de conjuntos de dados que coletamos a respeito do mundo natural ao longo de séculos de exploração. E é precisamente essa a razão pela qual um cientista pode concluir que é muito improvável haver qualquer propósito divino. Se um criador tivesse tal propósito, poderia escolher demonstrá-lo de uma forma um pouco mais clara aos habitantes de sua criação.

Sempre estaremos livres, como fazem algumas pessoas, para interpretar as leis da natureza como indícios de propósito; por exemplo, o Papa Pio quando o físico belga George Lemaitre demonstrou que a teoria geral da relatividade de Einstein implicava que o universo teve um começo. Isso foi interpretado pelo Papa como uma prova científica do Gênesis, mas Lemaitre pediu que parasse de fazer tal afirmação. O big bang, como tornou-se conhecido, pode ser interpretado em termos de origem divina, mas pode ser igualmente interpretado como remover deus completamente da equação. A conclusão está na mente do observador, e está fora do âmbito da teoria e predição científicas.

Finalmente, mesmo se o universo tiver um propósito oculto, tudo o que sabemos sobre o cosmos sugere que não desempenhamos um papel central nele. Nós somos, enquanto planeta, cosmicamente insignificantes. A vida na terra acabará, como provavelmente já acabou em incontáveis outros planetas no passado, e acabará no futuro. Todas as estrelas e todas as galáxias que vemos poderiam desaparecer num instante, e o universo continuaria comportando-se mais ou menos como o faz agora. A natureza parece ser tão impassível quanto é inflexível.

Portanto, religiões organizadas, que colocam a humanidade no centro de algum plano divino, parecem ser um afronta à nossa dignidade e à nossa inteligência. Um universo sem propósito não deveria nos deprimir, tampouco sugerir que nossas vidas são inúteis. Como parte de uma inspiradora história cósmica, nós nos vemos num remoto planeta neste remoto canto do universo, dotados de inteligência e autoconsciência. Nós não deveríamos nos desesperar, mas humildemente nos alegrar em aproveitar ao máximo esses dons, e celebrar nosso breve momento ao sol.


Lawrence M. Krauss é professor de física e astronomia na Case Western Reserve University.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Texto auxiliar para reflexão

A IDEOLOGIA ALEMÃ
(Introdução)
Karl Marx e Friedrich Engels
PREFÁCIO
Até agora, os homens formaram sempre idéias falsas sobre si
mesmos, sobre aquilo que são ou deveriam ser. Organizaram as suas
relações mútuas em função das representações de Deus, do homem
normal, etc., que aceitavam. Estes produtos do seu cérebro acabaram
por os dominar; apesar de criadores, inclinaram-se perante as suas
próprias criações. Libertemo-los portanto das quimeras, das idéias,
dos dogmas, dos seres imaginários cujo jugo os faz degenerar.
Revoltemo-nos contra o império dessas idéias. Ensinamos os homens
a substituir essas ilusões por pensamentos que correspondam à
essência do homem, afirma um; a ter perante elas uma atitude crítica,
afirma outro; a tirá-las da cabeça, diz um terceiro e a realidade
existente desaparecerá.