sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sobre as instituições




Sobre as instituições (propaganda)

"E se não ficar satisfeito, garantimos a devolução do seu dinheiro!"


Como havia prometido, darei continuidade em minha análise sobre o conceito da "nova cultura de informação" e suas instituições. No post anterior tratei da religião e o modo como essa é capaz alienar e tornar o ser humano passivo a todo tipo de atrocidade ou mesmo capaz de praticar todo tipo de atrocidade (o que não elimina o fato de que o ser humano é capaz de realizar as mesmas coisas sem essa). Nesse post, pretendo abordar uma outra instituição que, embora tenha se configurado mais tarde na história da humanidade, não deixa em nada a desejar a religião, sendo capaz de causar um mal de proporções devastadoras. Trata-se da propaganda (entendida propriamente no sentido capitalista, mas que pode muito bem extrapolar o jargão a que tantas vezes sociólogos e antropólogos se apegam para criticá-la). Deve-se entender que essa propaganda direcionada para o consumo, segundo os padrões estabelecidos por um determinado sistema econômico, não apenas dita o ritmo das relações sociais segundo a ideia de satisfação plena no consumo, mas também determina a ideia de perfectibilidade da natureza humana, sendo capaz de direcionar o telos (ou finalidade da vida) de acordo com seus próprios padrões. O que quero dizer com isso é que a propaganda, não limitada em determinar as relações sociais de acordo com as relações de consumo, extrapola a moralidade capitalista direcionando as ações dos indivíduos ao apontar uma ideia de felicidade inacessível (porém vendida como acessível) a todos. Percebam como o sistema se encaixa como um todo. Todas as instituições conjuntas (religião, propaganda, política, etc.) produzem conjuntamente uma falsa harmonia e uma falsa dependência do indivíduo para com o sistema. A "esponja acrítica", que mencionamos no início de nossos posts, se vê rodeada por todo tipo de informação e possibilidades, nem todas realizáveis. Existe sempre a promessa de um mundo novo, seja na aceitação da falsa propaganda de uma vida eterna após a morte, seja na aceitação da falsa propaganda de celular que promete um mundo mais "colorido" para aquele que o possuir, seja na falsa propaganda de um cartão de crédito que lhe diz que existem coisas que o dinheiro não compra, mas para as outras existe um "master card", etc. Para qualquer lado que esse indivíduo olhar ele será bombardeado por um acervo infinito de promessas (independente de serem falsas ou verdadeiras, são promessas). O problema está em saber lidar com esse bombardeamento. Evitá-lo se tornaria uma questão de ruptura social cujas implicações extrapolam nossa abordagem nesse post (excluir-se do sistema não vejo como solução, mas abaixar a cabeça de modo acrítico se torna pior ainda). O que se percebe, ao contrário do que seria o ideal, é a aceitação, quase que imediata, da promessa de uma vida feliz e satisfeita se nos entregarmos ao ideal promovido pela cultura do consumo desenfreado. Esse ideal gera um novo tipo de moralidade dependente, na qual a "esponja acrítica" torna-se presa e determinada pelos padrões ditados pela propaganda. Vejam bem, não estou aqui defendendo a ideia, como muitos cientistas sociais ou filósofos do "apocalipse" gostam de fazer, de que o consumo seja permissivo por si só, e com isso eu deva me livrar completamente do desejo de ter, por exemplo, um shelby 1970, entre outras coisas. Não sou "profeta" da moral ideal e não acredito em nenhum, aliás, tenho medo dos que promovem tais pensamentos ditatoriais (religiosos, ditadores, alguns sociólogos, alguns filósofos, etc.). O que critico é a maquina da propaganda que determina a moralidade tornando a felicidade do indivíduo dependente da aquisição de um determinado produto ou mesmo aceitação de uma determinada ideia (isso seria interessante discutir em outro post, a saber, os tipos de moralidade que condicionam a felicidade a um padrão estabelecido de comportamento). Se uma mulher obesa pretende fazer uma cirurgia a fim sanar problemas de saúde e assim, automaticamente, se sentir melhor consigo mesmo, não há nenhum problema nisso. Mas, por outro lado, se a cirurgia não passa de uma desculpa para assumir o ideal de beleza determinado pela propaganda e ditado como o único capaz de torná-la uma mulher feliz e completa, nesse caso temos um sério problema. Tanto o ideal de felicidade como o princípio que determina a busca desse ideal foram construídos externamente a ela. Sua autonomia em momento algum foi manifesta, aliás, ela foi relegada a apenas deliberar (já indutivamente) sobre qual produto ou padrão oferecido ela deve escolher, e o princípio da “esponja acrítica” se faz valer mais uma vez. Nesse sentido, o indivíduo passa a não ser mais o senhor de si e de suas vontades. Em minha época de militância religiosa, tínhamos uma expressão capaz de traduzir muito bem o que acontece nesses casos, a expressão era a seguinte: “não sou eu quem vivo, mas Cristo que vive em mim” (trecho bíblico Gálatas 2, 20). Tal expressão pode ser tomada em vários sentidos, não é o indivíduo quem vive, mas aquele ideal de consumo que vive no lugar dele, não é “Pedro” quem vive, mas o dono de um Iphone que vive nele, e assim por diante. Logo, a autonomia do indivíduo deve ser ignorada para que o mesmo seja aceito e faça parte desse mundo onde a moralidade é determinada por alguém que lhe é exterior.
A bem da verdade, devo admitir aqui que talvez este seja, senão o, pelo menos um dos posts mais complicados de se escrever até o momento. Isto porque o “inimigo” a se combater não é somente essa “indústria cultural” (já bem analisada por Adorno e Horkheimer, entre outros), mas também os próprios combatentes dessa cultura de consumo. O princípio da cultura de informação se faz valer até mesmo nesse meio. São tantas as idéias expostas dos dois lados que aquele que pretende assumir sua própria autonomia se vê cercado por ditadores da verdade de ambos os lados. Seja de um lado a cultura consumista e castradora da razão autônoma, seja de outro os pseudo-intelectuais que julgam através de suas fórmulas finalistas terem alcançado o ideal de perfectibilidade humana e o qual deve ser realmente seguido. Esse abismo gerado por esses dois pólos pode engolir o indivíduo que não estiver preparado para pelo menos assumir que o problema existe e deve ser refletido. Como aqui pretendo apenas analisar a propaganda veiculada pela mídia e seu poder de interferência na moralidade, deixarei para analisar a cultura de informação promovida pela instituição acadêmica em outro post, mas fica a ressalva de que existem esses dois pólos que disputam, violentamente, a atenção e o direito de regular as ações daquele indivíduo que se pretende portar na sociedade como autônomo e senhor de sua própria razão. Por vezes essa luta pode apenas jogá-lo para dentro do abismo levando-o a uma resiliência diante dos dois pólos, ou ao ostracismo de apenas um, com o dever de propagar sua diferença. Enfim, como a proposta do blog é promover o debate considerado pertinente por seus colaboradores e não sempre, a princípio, indicar as saídas para os problemas reconhecidos (mas que pode acontecer ocasionalmente quando essas lhes parecerem convenientes de serem postas em debate), fica aqui apontado o problema e o incômodo causado por esse, a saber, de que a cultura de informação exerce seu princípio da esponja acrítica inclusive através dos meios midiáticos de informação (propaganda, filmes, televisão, etc.). Uma saída deve passar primeiramente pelo reconhecimento do problema, do contrário podemos apenas permanecer como consumidores afoitos e silenciados por um desejo cuja origem e satisfação se encontram fora de nós mesmos.

Segue um link para leitura auxiliar:



Thiago Oliveira

sábado, 1 de maio de 2010

Poesias

A causa e a pena

A pena está pesada, o tempo está pesado

A resposta tarda.

Eu do lado de cá com cem grãos de consciência e o vazio me incomoda.

Não é o humor, não é o temperamento, apenas não é.

E o tempo pesa.

Consome cada grão num anuncio desesperado.

E a resposta tarda.

Intruso, o devaneio se põe a silenciar o peso que se mascara.

Mas o tempo não permite, e a resposta é falha.

Sob que comando a pena volta a deslizar?

Uma afronta a este peso seria o declínio?

Seria, pelo menos?

Os grãos se espalham e marcam os passos pesados em minha direção.

Surdez e cegueira já não é má opção.

Por que voltou a deslizar?

Agora não é só o vazio que incomoda, como se seu oposto pudesse gerar o mesmo desconforto.

“_ Se apegue aos clichês!”, grita o grão da esquerda.

Mas a pena pesa, e a resposta tarda.

E na esperança do vazio, que já não incomoda mais, tento ocultar o declínio.

E me apego com força de que não só eu e os grão saberemos.

Mas o tempo pesa, e a certeza é falha.

Não é medo da causa, mas de admiti-la.

Como se evitar as consequências apontasse a contramão do declínio.

Agora será assim.

Ao acordar a pena, cada passo pesado será marcado com um grão.

Mas o devaneio insiste em interromper.

Como se eu não soubesse de sua armadilha preparada a cada curva marcada.

Seu acordo com o tempo permitia a ilusão.

Sob a pena ainda julgo registrar passos escuros.

Não é o acordo do devaneio, mas meu com o tempo, se ele aceitar.

Pelo menos pareço não fingir.

“_ Deixe ao intérpretes, eles dirão!”, diz o grão da direita.

Mas a pena pesa e a certeza é falha.

E não é que o sarcasmo se tornou a fuga.

O tempo todo, mesmo sob o peso que marcara os grãos, foi a resposta que antes tardara.

Thiago Oliveira.