
Já fazia algum tempo que não escrevia nada aqui. De fato estive bastante ocupado com a vida acadêmica nos últimos dias que não pude encontrar tempo para essa descarga social que ouso chamar de blog informativo e provocativo. Descarga social porque por um lado, devo admitir, a internet possibilitou que milhões (talvez bilhões) de pessoas no mundo, inclusive aqui no Brasil, se tornassem intelectuais de “praça de alimentação” diariamente. Quem não tem um meio eletrônico de divulgar suas ideias hoje em dia? Seja por blogs, redes sociais, MSN, etc. E por mais que essas ideias possam ser absurdas, ridículas ou mesmo reconhecíveis, muitos não se privam do direito de guardá-las para si mesmos, inclusive esse que vos fala. Mas por outro lado, talvez esse seja um aspecto histórico inevitável que devemos usufruir com bom senso e certa astúcia. Nesse sentido, convoco todos aqueles que se incomodam com as mais estapafúrdias ideias que são propagadas sem o mínimo de critério pela internet a se mobilizarem consigo mesmos e começarem a protestar na mesma moeda, ou seja, escrevendo em resposta a esses ignaros. Enfim, não era sobre isso que gostaria de escrever nesse post. Deixei-me levar um pouco pela melodia psicodélica do Pink Floyd aqui e acabei fazendo uma introdução maior que o necessário, o que, de qualquer maneira, foi proveitoso, pois esse post trata justamente desse momento histórico que vivemos em que boa parte das pessoas adora se deixar levar por modismos convenientes, os quais acabam se tornando mais acessíveis graças a essa ferramenta de dois gumes chamada internet.
O Brasil está na fase final de seu ano eleitoral, e é fantástico que assim como a cada quatro anos surgem “maravilhosos” palhaços (sem o trocadilho com o tiririca) que fingem se interessar pelas condições de vida de nossos concidadãos, entre esses também surgem aqueles que do “nada” se transformam em grandes entes politizados e intelectualizados. Vocês entenderão meu ponto logo. Antes de tudo, devo deixar claro certas posições que observo a respeito de nossa democracia e do sistema político no Brasil.
Eu não voto mais! Isso é uma escolha deliberada. Caso estivesse em meu foro, votaria nulo. Por quê? Por dois motivos principais: (1) sou contra voto obrigatório (o que tem de gente burra, isso mesmo, gente burra, não ignorante devido as circunstâncias, falo de gente burra por escolha que vota e se acha o cidadão mais correto do Brasil); (2) e sou contra nosso sistema político. Enquanto não houver uma reforma política, que redimensione os direitos e deveres de nossos representantes, eu não acredito que tenha um sequer merecedor de meu voto, e morro com esse princípio, mas não voto por conveniência. E é onde entramos em nosso assunto principal. Estou de saco cheio – desculpem-me o palavreado – de todo santo dia ver algum intelectual de momento fazendo campanha com a seguinte frase: “exerça seu direito de cidadão, vote consciente.” Que desgraça é essa? Vocês sabem o que significa a palavra “direito”? Se voto fosse um direito ele não seria obrigatório, o voto obrigatório é uma ditadura da maioria camuflada de cidadania. Direito é o que podemos exigir em conformidade com as leis ou a justiça, e o “direito” ao voto não pode ser exigido, pois é ele que te compele a agir segundo uma lei determinada. Com isso, fica mais fácil dizer: “larga de se iludir cidadão de momento!” “Seu hipócrita da democracia!”. Estou escrevendo para todos aqueles que do nada se interessaram por política, seja porque o vigário da igreja ordenou, seja porque o pastor ordenou, seja porque o youtube te convenceu emocionadamente. Aliás, isso se tornou uma coisa engraçada, no Brasil o youtube tem poder de decisão política, e não os projetos de governo, o histórico dos partidos, etc.
É nesse sentido que me senti compelido a vir aqui e escrever, nem que fossem algumas meras palavras a respeito do tema e como desabafo. Nunca uma eleição no Brasil ficou tão recheada de temas adversos à discussão política de interesse geral. Deu-se lugar a ideias que estão fora do âmbito político, dado nosso suposto Estado laico, bem como gerou-se informações cruzadas cujas fontes nunca passavam de vídeos mal formatados e depositados no youtube. Tá certo que há muito tempo as pessoas já votavam por interesses, mas eram, por muitas vezes, interesses regionais, como deputados que pudessem favorecer certas regiões do Estado, presidentes que visassem mais uma certa classe social, etc. Mas agora, o que temos visto, são discussões não sobre o interesse político em geral, mas mesquinharias trazidas por tradições enferrujadas que somente servem para comover a população mais inocente. Me refiro a essa união inusitada entre os cristãos de todo o Brasil e de várias denominações, que mudaram os rumos das eleições simplesmente por seus interesses convenientes que em nada visam políticas de melhorias para o país. Vejam, eu não voto, não estou fazendo defesa da velha caduca da Dilma, nem indo contra o oportunista do Serra, mas será que esses mesmos cristãos estão bem informados a respeito desse cidadão que implantou no Brasil a pílula do dia seguinte?
Os cristão fizeram o desfavor de mudar o foco da discussão política no Brasil, o que virou uma baixaria entre os candidatos, vide debate na bandeirantes. Esses mesmos cristãos que se unem todo domingo no mesmo horário marcado com deus e que nunca fizeram campanhas pela internet a fim de suprir a miséria inexorável do Acre, ou mesmo do vale do Jequitinhonha em Minas, etc. O mais fantástico é que você pode bolar um vídeo dizendo que o parlamento pretende anular os direitos da gestante, ou mesmo que pretendem aumentar o imposto sobre a casa própria que ninguém move uma palha “internética” para colocar esse vídeo em orkuts ou outros meios sociais, mas se alguém elaborar um duvidoso vídeo sobre a despreparada Dilma supostamente dizendo que nem Jesus lhe tiraria essa vitória, haverá um reboliço entre esses à toas de plantão tão enorme e capaz de mudar os rumos de uma eleição. Vejam o caso da ficha limpa, uma oportunidade pra toda a população se mobilizar contra a permanência de corruptos no poder, mas não houve, pelo menos que eu saiba, nenhuma manifestação desse mesmo bloco que ficou todo ofendido com a proposta da discussão sobre a legalização do aborto. Logo, todos desse bloco passam a votar tendo em vista as supostas ofensas dirigidas a princípios arcaicos alimentados por uma ou outra instituição falida que vê nesse momento delicado uma oportunidade de renascer das cinzas. Não se vota em um partido tendo em vista o bem geral, vota-se em um candidato que abraçou a causa de comoção geral, depois, são mais quatro anos de “fudelância” para os que realmente necessitam de mudanças, pois sentado na sua poltroninha, com seu “notezinho”, sua net de banda larga, fica mais fácil ignorar se a distribuição de renda conseguiu alcançar patamares aceitáveis, se a fome ainda assola alguma região, se o analfabetismo foi eliminado, se foi permitida à ciência fazer seu trabalho em prol do ser humano sem ter que pedir licença às múmias. Mas é fácil de entender isso, pois do alto da sua poltrona, cidadão barato e de momento, você não percebe sua hipocrisia, sua barriga já tá cheia, suas contas pagas, e seu vídeo no youtube carregado, só basta deixar mais um scrap pra sua consciência dormir tranquila.
Thiago Oliveira
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